domingo, 27 de dezembro de 2009

Amanheceu, peguei a viola, botei na sacola e fui viajar!

Acho que essa estrofe nunca mais sairá da minha cabeça...
Era a abertura de um programa que sempre adorei assistir nos meus tempos de adolescência: o Globo Rural. Vendo, me sentia mais perto da minha terra natal, a velha Queimadas de 1824, onde Lampião passou e deixou, como de praxe, seu rastro de sangue e violência debaixo de míseros 43ºC à sombra de uma amendoeira.

Toda vez que eu lembro dessa frase e lembro de Queimadas é porque estou sentindo falta da terrinha... seus hábitos, seus costumes, sua comida (inigualável), sua gente simples (mas pacata, honesta e feliz), além dos amigos poucos (mas de fé!) que eu tenho lá. Um lugar simples, humilde, onde quase nada há pra se fazer principalmente pra aqueles que estão habituados com o pique das grandes metrópoles, mas quente tanto no clima quanto na hospitalidade de sua gente.

Aliás, é uma cidade do sertão de um estado do Nordeste. Quem é que quer pique, confusão, aceleração, baladas e afins numa cidade do sertão do nordeste? Ahhhhhh, tenham dó!

Fico pensando o quanto tantas pessoas precisam pra ser feliz na vida. Ficam fazendo tantos projetos, mentalizando tantos sonhos, tantas metas, e acabam se esquecendo de que, como diz a propaganda daquele cartão famoso, a vida é agora! No interior, quanto mais interior for, a gente consegue perceber isso. Acho que talvez seja por essas razões que eu sempre sinta que é necessário voltar lá. Percebo que alguma coisa acontece no meu coração, principalmente quando cruzo a Rua Manoel Amâncio de Souza com a Rua Ranulfo Gonçalves Primo. Faz parte de minha vida e de minha montagem como ser humano...

O olhar triste de minha avó, na janelinha de 3x2 da casa 60 vizinha ao aviário, todas as vezes que eu ia embora (eu falei todas!), até me perder na vista dos olhos cansados de mais de 80 anos de muito sofrimento, eu nunca vou esquecer e ainda me emociona bastante...
Ainda me lembro da última vez que isso ocorreu e eu ter tido a impressão de que seria realmente a derradeira. Não estava errado. Como era bom ouvir aquele sotaque, as reclamações, o jeito ranzinza, porém extremamente sábio da velha Maninha.
Comer aquele arroz "unidos venceremos" que sei que nunca mais comerei igual, feito naquela caçarolinha velha, aquela carninha frita e um feijãozinho caseiro. E a umbuzada??? Ah, fala sério. Comida de avó é boa demais, não sempre por estar uma delícia, mas por ter sido sempre feita com amor... um amor que você nunca mais vai encontrar.

Enfim... nessas horas que puxo um pequeno fio, vem todo o carretel de lembranças, boas e nem tanto, mas que são todas partes da história.

Sinto falta de minhas tias, minhas primas (tão diferentes! nem parecem que são primas... rsrs), meus amigos que ainda estão lá sempre buscando o melhor pra si, outros que foram embora há algum tempo pra buscar uma vida melhor e venceram com muita galhardia e hoje estão muito por cima, mas sem nunca perder a humildade, o respeito. Sem nunca ter soberba, nariz empinado. Venceram por seus méritos, seu esforço, sua dedicação e também, lógico, pelo seu caráter (hein Van?), outros que foram embora recentemente por acreditar que já era hora e que não tinha mais jeito, mas foram com o coração tá apertado que se pudessem já tinham voltado (hein Mari?). E outros como eu que, muito embora tenham feito de outra cidade como sua casa, nunca deixarão suas memórias caírem no esquecimento.

Queimadas, a qualquer hora eu tou voltando...  estou precisando de suas ruas, suas lembranças, seu calor escaldante físico e humano. Sempre foi aí que me recarreguei quando as coisas não andavam bem.
Você pode não ser mais a mesma dos anos dourados, mas a nossa relação é pra toda vida!

Um comentário:

  1. Oi irmão! Confesso e não nego que minhas lágrimas rolaram depois de sua lembrança tão bem escrita com todo 'detalhe verdadeiro. D.Maninha("senta vaneide" "-Israel! sua mãe gritava") Tempos em que não havia preocupação se o mundo ia acabar, se o ecosistema estava ameaçado, se necessitávamos ganhar dinheiro. Queríamos apenas arrumar as coisas e ir para o rio Itapicuru aos domingos, aprender a nova música do Elton em inglês, ir para escola, chegar as férias e que faltasse luz pra brincar na rua.Estas recordações servem de motivação para a labuta diária, para lembrar que nossos valores estão muitos vivos e verdadeiros e nada disso ficará em meu subconsciente se nós pudermos postar nossas memórias, que ao longo do tempo vai diminuindo. Não deixemos cair no esquecimento! Te amo irmão. Bjos de sua irmã branca.

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