terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Olho por dente, dente por olho...

Uma pessoa muito querida me disse esses dias que, recentemente, estava morando em uma casa cujos vizinhos eram terríveis.
Eram maledicentes, mexeriqueiros, barulhentos e briguentos. Alguns dos filhos destes até tinham o hábito de se apropriar dos bens alheios. Eram um espinho na carne da vizinhança.

Perto do terreno dela havia um pessegueiro maltratado que fazia sombra na janela da cozinha deles. Quando chegava a primavera, a velha árvore conseguia, a muito esforço, produzir algumas folhas e flores.
As flores se transformavam em pêssegos minúsculos, verdes e duros que nunca chegavam a amadurecer. Só serviam mesmo para que os vizinhos os apanhassem e jogassem longe.

Certo dia, a mãe dela decidiu mandar cortar a árvore, para colocar flores em seu lugar.
Não demorou muito para que sua decisão chegasse aos ouvidos dos vizinhos.
Eles pediram que ela não cortasse a árvore, porque aquela era a única que havia para dar sombra na sua cozinha, que tinha um teto plano e ficava exposta ao sol inclemente daquela localidade.
Seria uma cena tentadora ver aqueles vizinhos, que somente irritavam a todos, sufocar no calor da cozinha. Mas a mãe dessa pessoa, criatura de uma fé emocionante e inabalável, acreditava, dentro da sua concepção de vida, que a forma a qual deveria se portar jamais poderia ser essa.  Assim, a árvore não foi cortada.

Quando a primavera chegou naquele ano, uma coisa maravilhosa aconteceu com o pessegueiro.
Os velhos galhos secos começaram a florescer. As flores se transformaram nos conhecidos pêssegos pequenos, verdes e duros. Mas, maravilha das maravilhas, foi que estes amadureceram e se tornaram frutos doces e deliciosos.
A mãe desta pessoa distribuiu alguns aos vizinhos, inclusive aos desagradáveis, e preparou vidros de conserva em quantidade suficiente para durar até o ano seguinte.
Depois de alguns meses, os vizinhos se mudaram dali. A árvore nunca mais produziu bons frutos. Foi só naquele ano.


"Não sei ...", me disse a querida pessoa, "... porque aquilo aconteceu. Mas de uma coisa eu sei: se minha mãe tivesse retribuído o mal com mal, nada teria acontecido, porque não haveria árvore. E, melhor do que tudo, eu teria perdido uma bela experiência e uma das lições mais profundas de minha vida. Mamãe teve a oportunidade de revidar. Entretanto, preferiu semear amor e recebeu como recompensa uma maravilhosa colheita.

Houve a colheita da árvore, mas também houve uma colheita no coração dela, no meu e no de muitas outras pessoas."

***
Pra vocês que leram e/ou se identificaram (ou identificaram alguém), fica a reflexão...
Quanto tempo nós perdemos fazendo com que as pessoas sintam em si o que elas, um dia, nos fez sentir de ruim?
Será mesmo esta a melhor forma de ser justo?
É fazendo igual que se mostra, ou fazendo diferente é que se cala?

Abz!